5 tratamentos psiquiátricos bizarros que caíram em desuso

Matéria da revista Super Interessante mostra  tratamentos psiquiátricos que caíram em desuso. 

Até que se entendessem as doenças mentais, muita coisa absurda já foi feita para dar um jeito nos loucos. De choque térmico por infecção pelo protozoário da malária (!) a perfurações no crânio (ambos tendo rendido o Prêmio Nobel a seus criadores!), listamos 5 “tratamentos” bizarros já usados para curar males psiquiátricos.

1 - Infecção po malária
2 - Terapia por choque insulínico
3 - Trepanação
4 - Lobotomia
5 - Mesmerismo



1- Infecção por malária
 
 
Estamos nos anos 30 e a sífilis, incurável nessa época, é a maior causa de demência no mundo. Ninguém sabe o que fazer com tanta gente paranóica, violenta e incontrolável nos manicômios. Mas aí o médico austríaco Julius Wagner von Jauregg observou que, quando essas pessoas contraíam alguma doença que provocasse episódios de febre alta e convulsão, a loucura ia embora. O que o doutor Julius fez, então? É. Ele colocou o sangue contaminado de um soldado com malária em nove pacientes com paresia crônica, a demência que ocorre em um estágio avançado da sífilis, para que elas contraíssem febre alta e tivessem convulsões. O resultado foi impressionante e até lhe rendeu um Premio Nobel em 1927: ele conseguiu recuperação completa em quatro desses pacientes e uma melhora em mais dois. “Parece absurdo dar o Prêmio Nobel a alguém que infectava os pacientes com a malária, mas o desespero na época era muito grande”, diz Renato Sabbatini, neurocientista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Esse tratamento, obviamente, era muito perigoso (você melhorava da loucura, mas ganhava a malária de presente) e deixou de ser usado nos anos 60, com a descoberta de antibióticos e medicamentos próprios para problemas mentais.

2 - Terapia por choque insulínico
 
 
Em 1927, o neurologista e psiquiatra polonês Manfred Sakel pesou a mão na dose de insulina que aplicou em uma paciente diabética (que era, dizem, uma cantora lírica famosa na época) e ela entrou em coma. Mas o que poderia ter sido um desastre virou uma bela descoberta: a mulher tinha psicose maníaco-depressiva e obteve uma notável recuperação de suas faculdades mentais. Então Sakel descobriu que o tratamento era eficaz para pacientes com vários tipos de psicoses, particularmente a esquizofrenia. “Esta foi uma das mais importantes contribuições jamais feitas pela psiquiatria”, diz Sabbatini. A técnica passou a ser usada em todo o mundo, mas o entusiasmo inicial diminuiu depois que estudos mostraram que a melhora era, na maioria das vezes, temporária. Sem contar, é claro, que era extremamente perigoso. Assim, esse tratamento também caiu em desuso após a descoberta de medicamentos mais adequados.
 
3- Trepanação
 
 
Achados arqueológicos mostram que a trepanação, cirurgia em que era aberto um buraco (geralmente de 2,5cm a 3,5 cm de diâmetro) no crânio das pessoas, já era feita em várias partes do mundo 40 mil anos atrás. A cirurgia era realizada em rituais religiosos para liberar a pessoa de demônios e espíritos ruins – quando, na verdade, ela era vítima de doenças mentais. Até hoje é realizada por algumas tribos da África e da Oceania para fins rituais e em alguns centros modernos de neurologia para aliviar a pressão intracraniana em caso de fortes pancadas na cabeça, por exemplo. Mas não só. “Se esse procedimento for feito por algum outro motivo, isso é bizarro e perigoso”, afirma Sabbatini. Mas existem organizações hoje que defendem essa técnica “como forma de facilitar o movimento do sangue pelo cérebro e melhorar as funções cerebrais que são mais importantes do que nunca para se adaptar a um mundo em cada vez mais rápida evolução”. Isso é o que diz o site de um grupo internacional em defesa da trepanação, que defende que qualquer pessoa que deseje melhorar suas funções mentais e sua qualidade de vida deve poder realizar o procedimento.
 
4 - Lobotomia
 
 
A trepanação deu origem a outro procedimento macabro: a lobotomia, incisão pequena para separar o feixe de fibras do lobo pré-frontal do resto do cérebro. Como isso provoca o desligamento na parte das emoções, pessoas agitadas se acalmavam como se tivessem tomado tranquilizantes. Essa técnica, criada pelo neurologista português Antônio Egas Moniz, foi realizada pela primeira vez em 1935 e também lhe rendeu um Nobel, em 1949. Os resultados foram tão bons, que a lobotomia começou a ser usada em vários países como uma tentativa de reduzir psicose e depressão severa ou comportamento violento em pacientes que não podiam ser tratados com qualquer outro meio (na ocasião, não havia muitos). O problema é que a técnica, que deveria ser o último recurso, passou a ser usada maciçamente nos manicômios para controlar comportamentos indesejáveis – inclusive em crianças agitadas e adolescentes rebeldes. Entre os anos de 1945 e 1956, mais de 50,000 pessoas foram sujeitas a lobotomia no mundo inteiro. E os efeitos colaterais eram horríveis: a pessoa virava um vegetal – sem emoções, apáticas para tudo. Com o aparecimento de drogas efetivas contra ansiedade, depressão e psicoses, nos anos 50, e com a evidência de seu abuso difundido e efeitos colaterais, a lobotomia foi abandonada.

5 - Mesmerismo


 O médico austríaco Franz Anton Mesmer acreditava ser possível aliviar sintomas clínicos e psicológicos passando imãs sobre o corpo de seus pacientes – procedimento conhecido como mesmerismo. “Mesmer acreditava que os fluidos do corpo eram magnetizados e que muitas doenças físicas e mentais eram causadas pelo desalinhamento desses fluidos. Ele também achava que era possível obter os mesmos resultados sem os imãs, passando apenas as mãos sobre o corpo do paciente”, explica o professor de psicologia Renato Sampaio Lima, da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Ahhh, o poder da sugestão. Era tudo picaretagem. Ou efeito placebo, para ser mais exato. Esta arte de cura disseminou-se entre outros praticantes no século XVIII e chegou aos Estados Unidos no início do século XIX. Mesmer foi expulso de vários países e cidades porque não conseguiu provar a eficiência do seu método, mas ganhava uma grana dos crédulos. “Em todos os lugares em que ele foi, a comunidade médica o repudiou. Ele pegava madames com doenças psicossomáticas leves, fáceis de tratar com placebo, e baseava o seu prestigio nesse efeito”, completa Sabbatini. O suposto sucesso não dependia das técnicas usadas, mas no seu poder de persuasão. Após muitas críticas, a prática do mesmerismo caiu em desuso no início do século XX.

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SAÚDE MENTAL: A DESINSTITUCIONALIZAÇÃO PSIQUIÁTRICA E O ENCARGO SOBRE AS FAMÍLIAS


 É de conhecimento de todos que a área de Saúde Mental experimentou ao longo dos anos 80, e mais particularmente na entrada da década de 90, transformações substanciais com o avanço do movimento pela Reforma Psiquiátrica. Não apenas as discussões sobre o reconhecimento da cidadania do louco lograram aparição pública, deixando de ser um tema de interesse circunscrito a profissionais progressistas da área para envolver usuários, familiares dos serviços psiquiátricos e a população em geral, como também a implantação de programas e serviços de portas abertas (tais como CAPS, NAPS, hospitais-dias, enfermarias de curta internação) mostraram ser possível um outro tipo de intervenção sobre a loucura que não fosse estigmatizante, cronificante e, sobretudo, que não reafirmasse a exclusão social dos loucos.
  

É neste contexto que a família passa a ser um elemento privilegiado das políticas institucionais de atendimento na saúde mental, o que não significa dizer que a prática psiquiátrica de outrora desconsiderasse a família. No entanto, não podemos esquecer que o tratamento asilar tinha por objetivo excluir do convívio social aquelas pessoas que eram potencialmente uma ameaça para si, para a família e para toda sociedade. Na medida em que o asilamento do louco passa a sofrer duras denúncias e críticas, na medida em que a internação ad eterno da loucura passa a ser desprivilegiada, é que a reinserção social e a reinserção familiar do paciente psiquiátrico tornam-se objetivos primordiais das instituições e serviços psiquiátricos.

No entanto, é necessário que consideremos o contexto mais amplo em que a Reforma Psiquiátrica avança no país, contexto de ofensiva neoliberal, de redução de serviços, e, particularmente na área de Saúde Mental, de redução de leitos psiquiátricos em um número superior à criação de serviços psiquiátricos comunitários alternativos ao asilamento. Podemos acrescentar a isso um outro dado: o baixo potencial de cobertura assistencial da maioria dos serviços alternativos à internação, em especial os hospitais-dia, ainda restritos a atenção a uma clientela de nosologia mais leve e de prognóstico mais favorável. Tais fatos nos levam a crer que, em nosso país, a responsabilidade diária de cuidado com os pacientes crônicos tem sido em grande parte creditada às famílias.

A família tem ressurgido neste final do século como um tema altamente privilegiado para intervenção do Serviço Social. Acreditamos que a reemergência desse fenômeno não esteja ocorrendo por acaso. São muitas as instituições, programas e serviços que têm buscado privilegiar em suas ações a reinserção familiar. Mas qual o desafio que hoje este tema traz para o Serviço Social? Em primeiro lugar, pensar a intervenção profissional com a família na atualidade não deve ser sinônimo para ressurreição do Serviço Social Tradicional. Isso não é uma exigência apenas dos avanços obtidos pela profissão nestas duas últimas décadas. É importante que entendamos que o próprio "progressismo" de muitas áreas onde o Serviço Social está inserido exige também da categoria o rompimento com o conservadorismo e com a intervenção adaptativa e tutelar. Exemplo claro disso é a saúde mental, que avançou de uma cultura segregacionista e cronificadora para luta pelo reconhecimento da cidadania do louco. Portanto, não cabe hoje tratar a temática da família naquela perspectiva tradicionalista de adestramento a um estilo de vida condizente com o modo de produção burguês.

E de que maneira podemos, então, abordar a família sem que abortemos os avanços teórico-metodológicos e ético-políticos conquistados pela profissão nos anos 90, posto que estes avanços nos exigem que tratemos a questão da família no quadro sociohistórico mais amplo?

Este quadro mais amplo não apenas atinge as condições e relações de trabalho do assistente social, mas também atinge as condições de vida da população usuária dos serviços sociais. Sendo assim, devemos considerar que a família não está imune às profundas modificações que assolam a sociedade capitalista na contemporaneidade. Ela é diretamente afetada pelo quadro sociohistórico mais amplo. De acordo com SALES (1997), as mudanças do mundo do trabalho - o desemprego estrutural, a precarização do trabalho que transformam um contingente cada vez maior de mulheres em "chefes de família" - atingem diretamente uma das tarefas básicas cumpridas historicamente pela família: a reprodução material e espiritual dos indivíduos.

Somada a estas alterações de ordem econômica, a família está sofrendo também mudanças de natureza cultural que indicam a ruptura de velhos padrões ao redefinir papéis de gênero e a relação entre as diferentes gerações (pensemos no divórcio, nas pessoas morando só, no aborto, nas mães solteiras, na liberalização dos costumes, etc.).

Tais mudanças se expressam na configuração de uma nova composição familiar, fenômeno mundial também observado na estrutura demográfica brasileira da atualidade. O que estes dados refletem, segundo especialistas da área é o fim da grande família, que potencialmente era capaz de oferecer amplas redes de sociabilidade, suportes afetivos cruzados e, eventualmente, ajuda econômica. A família restrita (ou família sem colaterais) é a tendência da composição familiar atual que afeta a todas as classes sociais, mas seu rebatimento nos setores populares traz conseqüências mais penosas.

Para SALES (Op. cit.), o que esses dados sinalizam é que os mecanismos de solidariedade familiar, considerados elementos básicos na proteção dos indivíduos contra as agressões externas e a exclusão social, adquirem agora o formato de uma interação limitada e precária entre alguns membros da família. Torna-se mais árduo para um membro familiar em dificuldade acionar uma rede de parentesco limitada ou dispersa, o que exige novas estratégias de organização doméstica, sobretudo, no que diz respeito ao cuidado com os dependentes.

A hipótese que sustentamos é que, malgrado a relevância que a família possa ter para os novos serviços e programas de desconstrução asilar, muitas vezes o processo de desinstitucionalização psiquiátrica é efetivado à revelia das dificuldades concretas que os familiares enfrentam para manter seu ente em casa. Muitos trabalhos de reinserção familiar de pacientes psiquiátricos são conduzidos sob o privilégio de abordagens quase que exclusivamente psicológicas, sem que se dê voz aos problemas concretos vividos pelas famílias no convívio e sustento diário de seus loucos. Assim sendo, embora mais presentes nesses serviços, as famílias tendem a não ser consideradas como usuárias dos mesmos, ou como um usuário de menor importância que teima em obstaculizar a Reforma Psiquiátrica. É notória a ausência de reflexões nos Serviços de Saúde Mental sobre as dificuldades que as famílias de pacientes psiquiátricos têm em conciliar lazer, trabalho e cuidado diário de seus entes doentes. Mesmo quando questões como essas conseguem ter um canal de expressão nos serviços, acabam por não ter eco na dinâmica ou reorganização do mesmo. A maior parte dos serviços de Saúde Mental ofertados hoje à população tende a depositar o peso do cuidado com a loucura sobre as famílias.

Há uma necessidade premente para a constituição de serviços de saúde mental capazes de compatibilizar interesses e direitos conflitantes de usuários e familiares (GIANNICHEDA, 1989 e SOMMER, 1990). Serviços que se estruturem como dispositivos assistenciais dispostos a rever com a família a distribuição do tempo de cuidado, a permitir maior poder de interferência dos familiares na sua dinâmica e organização internas, ultrapassando as abordagens que culpabilizam as famílias pelo adoecimento de seus entes.

Os autores em tela apontam, ainda, para o papel de "maximização do tempo de produção" que os asilos psiquiátricos e as instituições totais de uma maneira geral cumpriam frente as famílias das classes trabalhadoras. O que se intenta ressaltar é que, para além da função repressiva, as instituições totais exerciam uma função econômica, posto que ao enclausurarem os loucos, e toda sorte de dependentes, elas acabavam por poupar o tempo das famílias com o cuidado de seus entes.

Podemos encontrar uma análise sobre a função econômica das instituições totais também em IGNATIEFF (1987), que discorre sobre os riscos que as análises históricas das instituições totais trazem - principalmente aquelas que se apóiam em Goffman e Foucault - de tornarem-se uma "história institucional", isto é, uma história limitada ao que ocorre no interior da instituição, um relato "da sua arquitetura, da sua administração, das relações de quem captura e é capturado". Para o autor, o melhor ponto de abordagem desta história deve se localizar a partir do exterior da instituição: "a partir do mundo das classes trabalhadoras". A história das instituições totais se situa na relação entre o que ocorre no interior da instituição e o que se passa fora dela: no papel exercido pela instituição total na reprodução da ordem social.

As mudanças na natureza do trabalho de mulheres e um aumento global na duração e na intensificação de trabalho para homens e crianças durante a industrialização tornaram mais difícil para as famílias de trabalhadores combinarem emprego, cuidado e alimentação de dependentes no lar. Essas suposições podem esclarecer novas questões acerca da demanda vinda da classe trabalhadora para as instituições do Estado.
Um dos maiores desafios postos na contemporaneidade aos profissionais que atuam na saúde mental, principalmente para aqueles que são contrários à privatização da questão do cuidado dos loucos no âmbito das famílias, é elucidar de que forma o hospício participa da reprodução das relações sociais de classe que conformam a ordem burguesa. É compreender a demanda pela institucionalização psiquiátrica ou, em outros termos, dos obstáculos ao "retorno" do paciente ao convívio social, como expressão da "questão social

Esse não é um desafio fácil, posto que a maioria das interpretações críticas da história da Psiquiatria, fundamentalmente aquelas ancoradas no pensamento foucaultiano, pensa o asilo psiquiátrico como uma estrutura eminentemente ordenada pela lógica punitiva, uma estrutura descolada da esfera da dominação de classes. Assim, o asilo é visto como produto de um outro fenômeno, na maioria das vezes, fruto da dominação da razão normativa; uma estrutura apartada das interações entre o Estado e a sociedade civil, das lutas de classe e da "questão social" na ordem burguesa monopólica.

CASTEL (1991) demonstra como o asilamento não foi, como sugere Foucault, um fenômeno universal que tivesse por objeto a loucura em geral, isto é, independente da classe de origem do alienado. Embora o autor declare expressamente que sua análise segue a linha aberta por Foucault em História da Loucura (1987), as considerações a respeito da criação dos primeiros hospícios franceses demonstram que a história da institucionalização da loucura se passa como estratégia de dominação de classe.

O referido autor aponta - e isto é de extrema relevância – que, embora a aliança entre o movimento filantrópico e o alienismo tenha-se esforçado para creditar à Psiquiatria amplos poderes sobre o destino social dos loucos - regularização do processo de internação e interdição da loucura sob crivos médicos, remodelação da estrutura assistencial da saúde mental por todo o território francês, construção de asilos especificamente para doentes mentais em quantidade e qualidade terapêutica suficientes - a idade de ouro do alienismo nunca existiu. Os avanços ficaram circunscritos apenas aos loucos pobres, principalmente aqueles sem família.

Para o autor supracitado, a assistência psiquiátrica asilar recai com peso diverso para as diferentes classes sociais, pois a Psiquiatria que surge como especialização médica na aurora do século XIX é uma Psiquiatria de classe. No entanto, a intenção do autor não é afirmar que os loucos de origem abastada não conheceram o asilamento (até porque o problema da institucionalização da loucura requer uma compreensão mais ampla), posto que a origem de classe compõe uma importante dimensão do problema, mas não a única. A gravidade da "patologia" e o suporte familiar constituem também elementos determinantes do destino social do alienado. Uma característica muito pouco observada corrige o funcionamento de classe da Psiquiatria, mas somente para os doentes mais graves: quanto mais longa e seriamente doente estiver uma pessoa, mais perderá seus privilégios de classe. A família se cansa de consultar unidades médicas e de pagar, sem resultados, contas hospitalares proibitivas. O louco de boa família pode se tornar, assim, um crônico de asilo, mas depois de um processo mais lento e menos necessário do que o do indigente.

Estes "critérios" - origem de classe, gravidade do adoecimento, suporte familiar -, devem, a nosso ver, ser utilizados para entendermos a demanda de institucionalização advinda da própria família do paciente psiquiátrico. Desse modo, o alienismo ou o asilamento que o representa não podem ser interpretados como medidas de força que se impõem sobre a cabeça dos alienados mais pobres, sem família e mais adoentados, sem que exista uma demanda real para aquilo que Castel (Op. cit.) denomina de "encargo pelo exterior". O cuidado doméstico dos dependentes recai mais pesado nas famílias trabalhadoras que naquelas que não necessitam colocar sua força de trabalho à venda no mercado; ele é um trabalho pesado que geralmente não é socializado dentro do próprio clã familiar.

Se desejamos de fato reconhecer a família como um ator político privilegiado no processo de desinstitucionalização psiquiátrica, é necessário que reconheçamos que o cuidado doméstico dos dependentes é um trabalho pesado, repetitivo, invisível e que exige do provedor um estilo de vida que o isola do mundo exterior.

FONTE:  http://www.ubiobio.cl/cps/ponencia/doc/p16.2.htm

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