A psicóloga Heloiza Helena Mendonça de Almeida Massanaro, presidente do Conselho Regional de Psicologia (CRP), diz por que defende a radicalização da reforma psiquiátrica e o fechamento dos 1.303 leitos de Goiás: "Nos últimos três anos, a reforma ficou estagnada e nenhum leito foi fechado em Goiânia, por exemplo. O fato de alguém precisar de cuidados especiais não pode condená-lo a perder a liberdade, que é o bem maior do ser humano". Heloiza Massanaro se reporta ao século XVII para explicar os motivos do isolamento de pessoas com transtornos mentais. Segundo ela, a idéia de higienização das cidades deu início a um processo de pôr "cada coisa em seu lugar, de forma autoritária". Foi quando surgiram os grandes hospitais para hansenianos, tuberculosos e loucos. "Há muito tempo os hansenianos e tuberculosos se livraram da prisão, mas o doente mental, não. O paciente com transtorno mental deve ser atendido com cuidado, mas em família, em sociedade."
As crises ou surtos de um doente mental podem durar, segundo a psicóloga, de cinco minutos a cinco dias. "Nunca mais que isso", garante. "Mas muita gente fica aprisionada nos manicômios por até 20 anos. Isso não é tratamento, é prisão. E o pior: sem julgamento." É durante os surtos que a maioria dos pacientes vai parar nas clínicas psiquiátricas, tão combatidas pelos defensores da reforma psiquiátrica, já que os CAPS, além de não atenderem à noite, fins de semana e feriados não têm estrutura para esse tipo de atendimento.
Heloiza Massanaro afirma que o portador de transtorno mental precisa de um atendimento integral, que não se limite aos CAPS. Ela cita os exemplos de Campinas (SP) e Belo Horizonte. "Estas cidades oferecem ótimo atendimento ao portador de transtorno mental, com uma ampla rede de assistência. Goiânia precisa seguir esses exemplos", diz. "É um absurdo, mas ainda não temos um CAPS 24 horas.
A presidente do CRP é categórica acerca da proposta de psiquiatras de abrir leitos psiquiátricos para atender à demanda: "Dizer que o paciente em crise tem de ser internado é uma desculpa esfarrapada de pessoas que só querem ganhar dinheiro. O que precisamos é utilizar nos CAPS o dinheiro destinado aos leitos. Clínicas são como empresas, buscam o lucro". Heloiza Massanaro atribui as internações ao desconhecimento da população sobre os CAPS: "Muitas famílias, que antes internavam o parente, aprenderam a lidar com ele, com sua maneira diferente de ser".
Eletrochoque? Nem pensar. "A educação já usou a palmatória. Muitos métodos de tortura e sacrifício foram usados em nome da ciência. Creio em formas mais humanas de tratamento. O eletrochoque é uma tortura. Hoje temos medicamentos eficientes e não precisamos desses recursos perversos." A psicóloga rebate o psiquiatra Salomão Rodrigues Filho sobre a não adesão de psicólogos à reforma psiquiátrica: "A maioria dos psicólogos conhece e apóia a reforma. Inclusive muitos deixaram de trabalhar em clínicas porque se conscientizaram que é um método arcaico de assistência, um serviço ultrapassado". E manda um recado ao médico, que acusa psicólogos de exercício ilegal da medicina: "Se ele diz que nós estamos infringindo a ética porque fazemos diagnósticos, basta procurar os caminhos legais. Ele os conhece bem".
Dizer que o portador de transtorno mental é incapaz ou mais violento que outra pessoa qualquer é preconceito. É o que afirma Heloiza Massanaro, que desafia: "Peguem os últimos assassinatos divulgados na mídia e verão que no máximo um doente mental pode ter sido o agressor. A violência não está no doente, mas no ser humano".
“É preciso acabar com todos os leitos”
9:47 AM |
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