O cotidiano nas Residências Terapêuticas


Há algo específico no cotidiano de uma Residência Terapêutica que sempre nos remete a uma tensão: é casa ou não? É casa, pois o telefone toca, a campainha toca, a vizinha reclama, o gato da vizinha pula para a casa, a vizinha desvia água, e em aniversários os vizinhos estão presentes. Mas existe cuidador, coordenadora, estagiários. Os moradores não pagam conta de telefone, aluguel e nem luz. O que se sabe é a única coisa que não pode ser: manicômio. Talvez a base de todo trabalho nas RT’s residam nesse ponto, onde identificam-se os limites e impasses seja com os moradores ou com a equipe.
Quem está mais próxima do dia-a-dia da casa são os cuidadores. E este é um outro trabalho, também, cotidiano. A coordenação desse projeto precisa estar muito próxima deles – seja na casa ou em reuniões freqüentes. Acompanhar o trabalho junto aos cuidadores não é mais fácil do que o trabalho com os moradores. Eles também podem cair na rotina, no automático. O seu papel é essencial, pois visa inserir os moradores nos papéis desempenhados nos cuidados da casa, mediando essas tarefas e não fazendo por eles. A questão da rotina se faz presente nesse momento em duas vias. Uma rotina na casa é necessário. Rotina de um cotidiano, da dinâmica, do movimento entre eles. Qualquer casa tem a sua. Só que a rotina tem de ser dos moradores e não dos cuidadores. São detalhes extremamente importantes e é preciso que estejamos atentos a eles.
Além disso, na residência terapêutica, diferentemente de qualquer casa, o cotidiano inclui os cuidados com as medicações (existe na casa ou está faltando, se estão ingerindo ou estão jogando fora), os cuidados com a alimentação específica com as complicações clínicas. Cuidados, com a particularidade de cada um, sem ser em detrimento do grupo, numa dinâmica de convivência de casa.
A rede de cuidados também realiza-se através de dois CAPS. Apesar do constante contato com esse dispositivo, acredita-se que essencial separar o que é cuidado da casa e o que é tratamento no CAPS. Fazer essa diferença é mais uma tentativa de construir essa casa, o morar. É atribuído ao CAPS a missão de ocupar ou preencher o cotidiano dos usuários considerados graves, além de oferecer uma espécie de compensação traduzida em proteção, comida, benefícios, oferta de trabalho ou de atividades.
Os CAPS, desde sua criação, têm um compromisso com o destino com as pessoas que possuem sofrimento mental e vivem nos hospícios ou que ficam entregues a própria sorte, à margem dos dispositivos de tratamento. Constituem um passo fundamental para sustentar uma idéia de uma rede de serviços em saúde mental que funcione, de fato, como alternativa ao modelo manicomial, o que não significa dispensar o hospital psiquiátrico.

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